quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

PIROPIRAQUARA



Nos idos anos de 1988, fundamos o Piropiraquara em São José dos Campos. A ideia surgiu dentro do grupo de aproveitamento de folclore PIRAQUARA, por sua vez, fundado em 1984.
O Piraquara tinha como meta realizar pesquisas sobre o folclore da região e transformá-las em apresentações cênicas com o intuito também de ensinar, propagar, difundir e preservar a cultura popular.
Com essas pesquisas pudemos notar que o carnaval de rua, aquele que as pessoas da comunidade participam fazendo críticas aos acontecimentos, criando fantasias em casa com materiais que já possuem, se encontrando para brincar, era um dos fatos folclóricos da cidade e também da região.
Resolvemos, então, reativar essa manifestação. O grupo Piraquara se reuniu e refletiu como seria a melhor maneira de colocar em prática essa ideia.
Foi aí que surgiu o Piropiraquara!
No inicio, com pouca gente participando, uma banda em cima de um caminhão, a boa vontade das pessoas e muita vontade de continuar com o resgate, a preservação e a divulgação de nossa cultura popular.
Saímos da Praça Afonso Pena – local da Fundação Cultural Cassiano Ricardo na época – e percorremos as ruas e avenidas do Centro de São José dos Campos. Conforme íamos passando, as pessoas desciam de seus apartamentos, já fantasiadas, e nos acompanhavam.


Na foto, eu estou de “palhaço verde-amarelo” com uma gravata em que está escrito – “até quando?” numa clara alusão ao descontentamento em relação ao que acontecia no Brasil na época.

Ao meu lado, está minha amiga querida Helena Weiss, de branco, criticando o descaso com a saúde brasileira e denunciando o aparecimento da AIDS. A outra pessoa mostra uma placa – Césio – que lembra a descoberta de um artefato num espaço público - uma praça ou terreno baldio - que continha esse produto altamente tóxico e que foi manuseado por pessoas, sem o menor cuidado.
As meninas se vestem de mortalha – a morte da educação brasileira – a da direita é minha filha mais velha, então com 9 anos.

 Será que alguma coisa mudou desde aquele ano?

Será que continuamos palhaços sem voz? A saúde no Brasil e a educação estão bem atendidas? E os lixões?
Essa foto é de 1988. Quais serão as críticas deste ano? Será que o Piropiraquara mantém o espírito reflexivo, crítico e ativo? Será que a meta de pesquisar, resgatar, ensinar, propagar, difundir e preservar a cultura popular ainda se mantém?
O Brasil que eu quero, mereço e trabalho para ter é aquele em que as crianças são respeitadas no seu direito à educação, seus cidadãos não são agredidos com ameaças de contaminação, e os indivíduos são parte de um todo e não cidadãos indivíduos sem deveres.
Que venha a alegria! Que venha a diversão, mas que venha a responsabilidade também!
Vamos às ruas para brincar sem deixar de lado nossa indignação e perplexidade ante os acontecimentos sociais, culturais, políticos e econômicos atuais.

ALÔ PIROPIRAQUARA! Façamos História!

Vamos às ruas festejar sem deixar de sermos críticos.




quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

POESIA PREMIADA

Em busca de aprendizado em escrever textos, tenho tentado várias formas de escrita. Crônicas, poesias, textos acadêmicos, textos em linguagem coloquial, para melhor e mais facilmente me comunicar.
Escrevi então algumas poesias e um texto que coloquei no concurso realizado pela Secretaria da Cultura da Estância Turística de Avaré – FESLA: Festival Literário de Avaré – “evento que reúne obras de poetas, contistas e cronistas de toda a região” como está no Suplemento Poético do Centro Literário Anita Ferreira de Maria.
Foi com muita surpresa e extremamente feliz que recebi a notícia da premiação de duas de minhas poesias: 4° lugar com “Se Fosse” e Menção Honrosa com “Que calor!”.
“Foram 119 trabalhos, dos quais 79 poesias, 20 contos e 20 crônicas” relata o referido Suplemento.
Que maravilha! Como é gratificante ter um trabalho lido, reconhecido e apreciado!
Sim, bem sei que não sou poeta, mas uma pessoa que se interessa por aprender todos os processos de comunicação. Lecionei durante mais de trinta anos – uma forma de comunicação; publiquei e continuo escrevendo livros; escrevi uma dissertação e uma tese (textos acadêmicos); escrevi alguns textos publicados em revistas acadêmicas e outras não acadêmicas e também artigos em jornais. Tudo isso ao longo de muitos anos.
Estudar, aprender, relatar, comunicar, transmitir sempre foi meu foco. Receber críticas faz parte desse universo que abracei como minha profissão. Algumas críticas construtivas, outras nem tanto, porém que não passam despercebidas nunca.
Coloco aqui então as duas poesias premiadas que gostaria que lessem e criticassem, só assim posso progredir.
Agradeço aos organizadores do Festival e aos membros do júri que indicaram meu trabalho, uma delas – fiquei sabendo depois – foi minha professora de português no ginásio!

Se Fosse (4° lugar)
Se fosse poeta, poetava!
Se fosse cantora, cantava!
Bailarina se fosse, dançava.

Nem poeta, cantora ou bailarina,
Mas
Pocantina.

De tudo um pouco
Do pouco um tudo.
                                                Que Calor! (Menção Honrosa)
                                                                       No céu antes de um azul intenso
                                                                       Aparecem nuvens.
                                                                       Brancas e cinzentas.
                                                                       Será que vai chover?
                                  
                                                                       A brisa sopra um ventinho
                                                                       que alivia.
                                                                       Folhas voam, pássaros passam,
                                                                       e escuto
                                                                       o barulho constante do grilo

                                                   CRI CRI CRI CRI
                                                                      
                                                   Será que não fica rouco?


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

FINITUDES!



 


Ao limpar uma cristaleira, retirando um de meus colares feito por indígenas brasileiros, percebi que estava arrebentado... Tristeza!

Por quê? É tão lindo! Nunca mais terei outro igual!
VOU CONSERTAR e ponto final.
       
FINITUDES!
Estou envolvida (racionalmente) com finitudes há alguns anos. Tenho vários parentes queridos bem idosos e isso faz com que eu conviva com a finitude diariamente. E como é difícil!
Mas, voltando ao colar, essa experiência de ter mais um artefato indígena estragado – são potes de cerâmica que se quebraram, colares arrebentados, abanos esgarçados, objetos de fibra natural que criaram bichinhos... – o que me fez refletir sobre o SER indígena e sua maneira de vida. 
Desde que comecei a me inteirar mais profundamente sobre o modo de vida dos índios brasileiros, suas culturas, as etnias, suas diversas linguas, venho aprendendo muito. Inicialmente apenas registrando, depois refletindo e escrevendo sobre fatos, leis, vivências[1] e aprendendo sempre e cada vez mais. E agora isso... colares desfeitos e objetos perdidos!
Os objetos criados pelos indígenas são produzidos com matéria prima natural, ou seja, fibras naturais, sementes, penas, barro, coisas que se deterioram com o tempo e acabam por estragar o artefato criado com elas.


Em um primeiro momento, poderíamos pensar que eles próprios são (ou nós mesmos) somos “feitos” de matéria prima natural e deteriorável... Mas a questão que quero levantar não é essa. A questão é qual a importância da duração “sem fim” de um objeto. Para que? Se já o utilizamos, se já cumpriu sua função, é mais que normal que ele seja substituído.

COMO ISSO É DIFÍCIL!
A memória do que existiu é importante, nos completa e nos ensina. Saber o que foi feito e como foi feito nos acrescenta saberes. Não é importante guardar o objeto e sim o que ele nos representa ou representou.
Não deveríamos ser acumuladores de coisas e sim de saberes. E fazer como os indígenas que transmitem seus saberes aos mais novos... Sim, quem transmite são os líderes e idosos, pois é deles a maior vivência, a maior experiência sobre como e o que fazer. Essa deveria ser também a função dos museus – guardar para ensinar e não para acumular, para ter.
Todos os meus artefatos indígenas guardam uma história. Sei onde e de quem comprei e de quem ganhei alguns deles. Sei como foram feitos e do que. Busquei saber por que eram assim construídos e me alegrei quando expus em minha casa, nas minhas aulas, no meu corpo.
Sim, a finitude existe e é compreensível e menos dolorosa quando se entende sua razão. Estou fotografando todos os objetos para melhor difundir, explicar, ensinar.
Agradeço aos irmãos indígenas esse ensinamento, dentre outros. Agradeço pela beleza que me mostraram, pela gentileza com que sempre fui tratada. Agradeço por me ensinarem a viver com mais simplicidade.  


[1] São duas pós-graduações – mestrado e doutorado – com esse tema e um livro publicado – Arari´wa: escola na mata.