sexta-feira, 15 de novembro de 2013

MEU QUERIDO DIÁRIO!




Na década de 1960, embalados pelos livros/diários que líamos no ginásio, resolvemos - todas as meninas – termos nosso próprio diário.
Minha vontade, tempo, disposição e entusiasmo durou no máximo uma semana. Queria brincar, jogar basquete, tocar violão, piano... Não queria ficar escrevendo no “meu querido diário”! Sim, tive muitas amigas que foram assíduas, persistentes e diárias (rsrs), porém eu não tinha esse perfil.
Agora, me vejo sentada no quintal da casa onde passei minha infância, escrevendo em uma agenda antiga (1986) que encontrei perdida por aqui.
Gosto muito de escrever. Penso que é uma maneira de contar histórias, de relatar acontecimentos, de reviver passagens de nossa vida.
Mas um diário... acho que não!
Espero então os meninos carregarem o caminhão que levará a mudança de meus pais para outra cidade; é mais um ciclo que se fecha ou termina. Tenho que ser forte e paciente por dois motivos básicos: não deixar que os sentimentos tristes me invadam e não interferir a toda hora no serviço deles.
Mas, poxa! São as nossas coisas!
Algumas novas, algumas velhas, outras antigas. Sim, existe diferença entre ser velho e ser antigo. Antigo, na minha concepção, é claro, é tudo aquilo que tem existência de valor seja material ou imaterial.
No caminhão só irão coisas materiais, os objetos. A imaterialidade dessas coisas são as histórias que elas guardam e que têm, para cada pessoa, um significado diferente. Sim, uma mesma toalhinha de crochê pode não “contar” nada para meu irmão ou para meu pai, porém pode ser um texto incrível para mim ou para minha mãe:
- Essa toalhinha foi feita pela sua avó quando aqui esteve nos visitando.
- Quando foi isso, mãe?
 - Ah! Deve ter sido mais ou menos em 1963, foi quando ela teve erisipela, você lembra? Ficava sentada, de repouso com a perna pra cima e fazendo crochê.
 - Como não me lembrar? Foi nessa época que ela me ensinou a fazer os biquinhos nas barras de tecido!
...e assim vai... Uma história puxando outra.
MEMORIAS!
A recordação, a memória que se tem a partir de um objeto depende da vivência humana com esse objeto. Daí o cuidado ou o não cuidado que se tem com as coisas.
Para os meninos (da mudança) que carregam os objetos para o caminhão são apenas e tão somente objetos de mais uma casa para serem transportados. Sem histórias, sem memória, sem conteúdo, sem importância.
APENAS OBJETOS.
Não sei quanto o apego às memórias nos faz bem. A mim faz mal e bem. Mal quando penso nas pessoas que já se foram e utilizaram esses objetos... Uma melancolia me invade.
Faz-me bem quando percebo que a preservação e cuidado com eles permite que contemos nossas histórias: história familiar ilustrada!
 “Esse aqui foi da vó Marian”... E explica-se quem foi essa avó.
“Ah! Olhe essas xícaras, foram dadas por seu avô no meu casamento. Ele falava que ganhou numa quermesse!”
“Esse tabuleiro de damas foi feito pelo seu Antônio marido da dona Hasma (será assim que se escreve?) – ótimo artesão era ele...”
CUIDADO MENINOS!!!!!! MUITO CUIDADO! Vocês carregam histórias familiares. São histórias vividas ao longo de muitos anos que construíram e ainda constroem minha história e minha cultura e me fazem ser QUEM EUSOU!

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